A hora e a vez da natureza
Por Vinícios Poloni Sant’ Anna
As questões ambientais estão sempre em destaque na mídia. Os aspectos econômicos envolvidos na preservação ambiental, como não podia ser diferente, também são sempre alvo de debates e discussões. Um desses aspectos é o valor atribuído à natureza pela humanidade, já que é em função desse valor que as decisões de se preservar ou não um bioma intacto são tomadas.
O meio ambiente, quando intacto, fornece ao homem uma ampla gama do que podemos chamar de bens e serviços, tais como regulação climática, formação do solo, ciclo de nutrientes, fornecimento de comida, combustíveis, plantas medicinais. O homem, todavia, pode converter um bioma de forma a obter outros bens e serviços, como por exemplo, transformar uma floresta em pastagem, ou construir uma usina hidrelétrica.
Andrew Balmford, et al. em seu artigo Economic Reasons for Conserving Wild Nature, constatou empiricamente que o valor marginal líquido dos bens e serviços derivados da manutenção um bioma intacto é maior do que o valor marginal dos bens e serviços obtidos da simples conversão desse bioma em uma forma típica para o uso humano. Em todos os casos examinados, a perda dos serviços não comercializados é, em muitas das vezes, consideravelmente maior que o benefício marginal da conversão do bioma.
Frente a esse resultado, quais seriam então os motivos que ainda levam o homem à conversão dos biomas? Segundo o próprio artigo, são três as razões. A falha de informação, falhas de mercado (externalidades) e falhas na intervenção:
- Falha de informação: deriva da escassez de valores para diversos bens e serviços provenientes da manutenção de ecossistemas. Embora existam algumas formas de valoração (valoração por contingência, por exemplo), ainda assim esse valor provavelmente não captará todos os reais benefícios sociais gerado pela manutenção de um bioma.
- Externalidade: diz respeito às atividades que quando realizadas por uma pessoa, afetam terceiras, sem que estas tenham oportunidade de impedí-las e sem que tenham a obrigação de pagar ou o direito de serem indenizadas por possíveis consequências. Por exemplo, quando você planta uma árvore na rua de sua casa, isso pode gerar uma externalidade positiva, pois talvez um dos seus vizinhos aproveite a sombra da árvore em dias quentes, ou simplesmente se alimente dos frutos que ela gere. Agora, quando essa árvore é derrubada, existe então uma externalidade negativa, pois não mais existirão frutos ou a sombra em dias de calor. Da mesma forma, a manutenção de biomas, a priori, pode fazer pouco sentido econômico, uma vez que, em função das externalidades, a conversão tem pequeno impacto negativo sob os agentes que recebem os ganhos privados imediatos das mudanças, por exemplo, no uso das terras.
- Falhas na intervenção governamental: podem exagerar dos benefícios privados da conversão. A concessão de subsídios para estimular plantações, por exemplo, podem gerar um aumento de conversões de biomas.
Embora pareça que ainda seja necessária a conversão de ecossistemas para a obtenção de alguns serviços, tal como a energia elétrica, a conversão pode ser totalmente evitada em outros setores. Considerando a atual (e futura) importância do Brasil na produção de alimentos, vários pesquisadores, inclusive estudiosos da Embrapa, afirmam que é possível aumentar a produção brasileira, apenas com o aumento da eficiência dos processos produtivos.
Além disso, a presidente Dilma Rousseff disse, no discurso de posse, que o Brasil será um dos campeões mundiais de energia limpa e de crescimento sustentável. “Considero uma missão sagrada mostrar ao mundo que é possível um país crescer sem destruir o meio ambiente. O Brasil continuará priorizando a preservação de suas imensas florestas”, disse. Chegou a hora de ser reconhecido o verdadeiro valor da natureza.
Aplicamos as enquetes “Para você, economia e preservação ambiental caminham juntas ou em direções opostas?” e “Você acredita que a preservação ambiental seja racional do ponto de vista econômico?” no Twitter, assim, os comentários abaixo que começarem o nome com ‘@’ são respostas que nossos seguidores nos enviaram via Twitter. Deixe seu comentário também!
“A árvore, quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira.” (Provérbio árabe)
Com certeza juntas! aliás, o objetivo da economia não é a melhor alocação dos recursos?!
Deveriam andar juntas. Podemos ver que empresas que listadas em bolsa que integram o novo mercado tem investidores de LP.
Elas podem andar juntas, deveriam inclusive, mas não é o que acontece no Brasil hoje. Infelizmente.
Preservação é ramo do crescimento econômico.
Podem caminhar juntas, só depende de planos de ações de cada líder/governante. Sem alianças não há resultados.
Juntas, promovendo o desenvolvimento sustentável.
No sistema capitalista, desenvolvimento e preservação ambiental é o paradigma mais forte.
O pensamento precisa avançar ao nivel de compreender que preservação da natureza não significa não lucrar.
O sistema capitalista dentro de suas contradições sempre tem que avançar brutalmente sobre o meio ambiente
Acredito que atualmente, empresas utilizam essa fachada para aumentarem suas vendas, mas é inevitável o confronto com a natureza. Enquanto não houver uma conscientização dos nós consumidores, as empresas vão continuar causando danos.
Sim, aqui ainda podemos debater, mas na rua, no shopping, huuummm, “tamos mal”.
Crescimento economico e meio ambiente são duas palavras dificeis de se darem bem! Ou um ou outro.. o estado que decida
A verdadeira preservação ambiental é racional , quem não é racional são os destruidores do meio ambiente!
Muitas espresas e empresários não entendem que a preservação ambiental atrelada a investimentos resultam positivamente em tudo.
As empresas sustentáveis contribuem com a sociedade e economizam com reaproveitamento de materiais e incentivos fiscais.
Elas caminham juntas, pois uma gestão empresarial que adere a preservação ambiental promove o desenvolvimento sustentável.
A questão envolve atraso e risco. No curto-prazo a sustentabilidade aparentemente e irracional. Mas poucos levam em consideração os ganhos/benefícios no longo-prazo.
Há um ponto de equilíbrio que envolve custo, qualidade e eficiência operacional que converge para uma maior rentabilidade. À medida que o consumidor se conscientiza, as empresas são pressionadas. Vivemos um tempo onde mudanças ocorrem rapidamente!
Fato é que esse negócio todo de sustentabilidade e meio ambiente é uma ótima oportunidade de negócio (olha o trocadilho ae)
Todos os projetos de desenvolvimento sustentável são falidos, lindos na virtualidade, horríveis na realidade.
Falidos talvez. Mas kd nossa cobrança por propostas melhores, por projetos mais realistas e executáveis?
Queria dizer que há 14 anos li uma revista Neewsweek, com a manchete The greening of business. The greening, o esverdeamento dos negócios. A reportagem mostrou que era tudo fachada. Alguma coisa melhorou, no mais, continuamos vendo fachadas, a começar pelo falso crédito-carbono.
Economia sustentável existirá se houver uma conscientização geral disso. A teoria existe, a prática ainda não. A preservação será racional se a empresa que a realizar tiver expectativas de ganhos futuros com a propaganda verde. Se a sustentabilidade fosse racional e amplamente aceita, os Tratados internacionais sobre o clima seriam mais produtivos.
Economia e preservação ambiental precisam caminhar juntas. Aqui na Amazônia, então…
Não se deve, porém, deixar de explorar os recursos naturais. Há de ter em mente o “uso sustentável dos recursos”
Duvido que os ‘economistas do mercado’ levam em consideração todas as externalidades causadas ao prejudicar o meio ambiente. Pra mim, essas ‘propagandas sustentáveis’ ainda são só aparência. Efetivamente, as empresas fazem pouco pra preservar.
Preservação e meio ambiente geram crescimento econômico. Caminharão juntas quando esse conceito for melhor aplicado. Quando em vez de só falar em preservar, começarem a recuperar áreas, gerando empregos e renda. Se a preservação gerar lucros ou algum tipo de ganho as empresas, com certeza será racional.
A vocação da amazonia é para pecuaria e agricultura, uso sustentavel é apenas um plus econômico.
Vejo como vocação impostar pelo restante do Brasil. E ainda tem a mineração. Um dia isso acaba. E aí?
Vocação é algo originário. Pecuária teve início no sul/sudeste, não na Amazônia. Pecuária na Amazônia veio com imigrantes do sul, sem sucesso na origem. O empresário na Amazônia tinha incentivos: terra barata, crédito e pouca fiscalização.
Sempre existiu pecuária no sul e sudeste? ou ela foi implantada? Os índios já faziam isso?
Como falei, é uma vocação imposta. Só acompanhar o deslocamento da fronteira agropecuária. Grosso modo: a soja tomando conta do centro-oeste e empurrando a pecuária para a Amazônia.
Exatamente. Soja e pecuária têm efeito decisivo na ocupação e degradação da Amazônia.
O princípio básico que fala sobre “alocação de recursos” ocupa um lugar apenas teórico na conjuntura atual!