Custos da tragédia: a gota d’água foi só o começo
Por Juliana Oliveira
O montante de 300 mm de chuva em 24 horas (dados do Instituto Nacional de Meteorologia, Inmet) que atingiu a área serrana do Rio de Janeiro devastaram a região. Vendo as fotos nem parece que naquele cenário existiam cidades. Mais de 800 mortos. Inúmeros desaparecidos e desabrigados. Considerado um dos 10 piores deslizamentos no ranking da ONU. Prejuízos e custos incalculáveis. Como mensurar o “valor” das perdas humanas ou os “custos” dos “danos psicológicos” causados pela tragédia?
Segundo entrevista com Sílvio Tavares, da Embrapa, a área serrana do Rio de Janeiro é mais que propicia ao evento que ocorreu. “As vertentes são muito íngremes e muito longas. E esse é um processo natural de formação do solo nas baixadas.” Segundo ele, o correto seria que estas regiões não fossem ocupadas. Isto porque, segundo dados oficiais, no Brasil, 5 milhões de brasileiros vivem em áreas de risco. Para Sílvio, o planejamento urbano deveria conter uma ação de mapeamento das áreas de risco, evitando assim ocupação das mesmas, e quando o custo de retirada fosse inviável, reduzir o risco com obras de contenção, o que exigem muito recursos.
R$ 36 milhões poderiam ter evitado a tragédia da região se tivessem sido aplicados para tanto, como foi proposto no plano do PAC 2 de 2010. O dinheiro seria gasto para que além da utilização de sistemas de radares, houvesse uma equipe de apoio para observação e contato direto com a Defesa Civil.
O governo agora se propõe a financiar o possível, liberando saques de bolsa-familia, adiando pagamento de impostos. Para os desabrigados, o Estado comprometeu-se com o pagamento de um “bolsa-aluguel”, porém a expectativa do mercado é que não haverá moradia para todos e, portanto, já é esperado que o preço das mesmas supere o valor deste auxílio. O FGTS será liberado para cerca de 170 mil trabalhadores de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo conforme o Conselho Curador do fundo, numa estimativa de R$ 492 milhões do fundo a ser sacado, sendo o limite de 10 salários mínimos por pessoa. Outros R$ 400 milhões foram liberados via MP, que serão financiados pelo BNDES para servir de capital de giro e investimento, aos juros de 5,5% ao ano, para as empresas e empreendedores, neste caso não só para as áreas da região serrana mas para todas que declararem estado de emergência ou calamidade pública, dadas as circunstâncias das chuvas. Ainda, o governo já havia liberado outros R$ 1,18 bi ao Rio, para ajuda emergencial e outros R$ 780 milhões para recuperação das cidades devastadas.
Quanto às perdas econômicas calculáveis, o governador do estado do Rio, Sérgio Cabral afirmou que o prejuízo na agricultura deve chegar à R$ 270 milhões devido a perdas de safras, infra-estrutura e problemas no escoamento da produção. O isolamento das regiões, afetado pela destruição da maioria das vias de acesso à mesmas, além de afetar o escoamento e ajuda, também prejudica o turismo. Em Petrópolis, onde esta atividade representa cerca de 20% da economia, as perdas devem chegar à R$ 1,6 mi, principalmente devido ao cancelamento de reservas para os próximos meses. O declínio do turismo afeta outras áreas econômicas, elevando assim o impacto negativo nas contas dos municípios. O ministério da cultura ainda não conseguiu mensurar todos os danos causados pelas chuvas na zona histórica desta região: além destes não poderem ser reparados da mesma forma que o de outras construções, sua contabilização irá elevar todo o custo desta tragédia. Em Nova Friburgo, estima-se uma perda de R$ 300 milhões, incluindo só os danos materiais.
Concordo com o comentado pelos jornalistas do Manhattan Connection na Globo News: não é só o Brasil que sofre com os problemas de enchentes. Na Austrália, onde choveu bem mais que aqui, morreram cerca de 30 pessoas isto graças à eficiência dos mecanismos de gestão de desastres ambiental. Este desastre mostra a fragilidade do Brasil frente à força da natureza. Uma fragilidade que até certo ponto é responsabilidade do poder público. Para o Le Monde, “a nova tragédia (na região Serrana no Rio), como outras no passado, ilustra a negligência criminosa de algumas autoridades eleitas. Por demagogia ou interesses eleitorais, eles deixaram que o concreto tomasse os morros, ou mesmo encorajaram a especulação imobiliária”, afirma o artigo. O artigo cita as falhas nas previsões, sistema de alerta e ocupação em áreas de risco.
Segundo Debarati Guha-Sapir do Centro de Pesquisas sobre a Epidemiologia de Desastres (Cred), “Este foi o 37º deslizamento de terra no Brasil em menos de dez anos”. A professora considera um absurdo o país não conseguir enfrentar este “perigo natural”. “Imagine se o País também enfrentasse terremotos, vulcões ou furacões. O Brasil não é Bangladesh, não tem desculpas”, afirma.
Considero que o custo com a prevenção desta tragédia seria muito menor que sua reparação. Friamente, fico apenas pensando no “déficit” que esta tragédia vai criar nos cofres do governo: são os custos de reparação, ajuda mais os custos de prevenção, que agora deverá ser implantando. Gastos em dobro. Ninguém ensinou nossos políticos a utilizar o dinheiro de forma econômica? O ideal é evitar e não remediar. Frente a toda a responsabilidade pública sobre tal acontecimento, espero que os administradores aprendam com esta tragédia que dinheiro é pra ser usado de forma EFICIENTE e não a benefício político.
Custos da tragédia: a gota d’água foi só o começo
Por Juliana Oliveira
O montante de 300 mm de chuva em 24 horas (dados do Instituto Nacional de Meteorologia, Inmet) que atingiu a área serrana do Rio de Janeiro devastaram a região. Vendo as fotos nem parece que naquele cenário existiam cidades. Mais de 800 mortos. Inúmeros desaparecidos e desabrigados. Considerado um dos 10 piores deslizamentos no ranking da ONU. Prejuízos e custos incalculáveis. Como mensurar o “valor” das perdas humanas ou os “custos” dos “danos psicológicos” causados pela tragédia?
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Desastre causado pela irresponsabilidade da falta de planejamento urbano do Estado.
Pra mim, a destruição material foi a menor de todas. Foi uma destruição ideológica, da forma como concebemos a natureza.
Perspectiva econômica da tragédia? então estamos falando de custo de oportunidade. Ah se o governo soubesse disso…
Sim. Quanto se perdeu com todo o desastre que poderia ter sido evitado com prevenção, que sairia bem mais barato.
No mundo, os desastre naturais causaram um prejuízo de US$ 109 bi em 2010! Isso é assustador!
A economia é afetada pelos consumidores que perderam seus bens, e que agora tem que usar os seus recursos para recomeçar.
As pessoas em geral pensam somente no hoje .. se alguns meses atrás fizessem obra de prevenção, diriam que era desnecessário.
A chuva era prevista. Não houve prevenção alguma. O resultado de tanto descaso foi a maior catastrofe da historia do Brasil.
O que mais assusta as pessoas na verdade é perder a ilusão de que estamos no controle de nossas vidas.
A economia é afetada pelos consumidores que perderam seus bens, e que agora tem que usar os sers recursos para recomeçar
+ enquanto poderiam estar usando esses recursos em outros pontos da econômica, vêem-se obrigados a reconstruir suas vidas.
Pra mim, os governos municipais. Eles tem obrigação de manter os moradores pobres da construção em terra barata.
Os municipais, já que é nas cidades que a dinâmica de crescimento e ocupação desordenada se dá. As outras esfera, não adivinham
Quem tem a responsabilidade de organizar e fiscalizar o uso do solo? De aprovar construções? O Municipal.
Todos, pois nenhum apresenta projetos concretos e sucessivos de proteção ao meio ambiente
Quem é responsável pela segurança e bem-estar da minha família? O governo?
a convicção (de mundanças na aplicação do dinheiro publico) vem de cada um. Essa é uma revolução difícil de acontecer, mas deixar de tentar é a pior solução.
Vivemos em um país em que a forma política importa mais do que a eficiência, logo, não poderíamos esperar por menos
Falou tudo. O que existe é um tremendo de um tradeoff entre interesses políticos e eficiência social
Quando existe informação assimétrica (por exemplo de locais de risco para morar) é dever do governo intervir
Obras de prevenção dão votos???
o que mais assusta as pessoas na verdade é perder a ilusão de que estamos no controle de nossas vidas..