Iniciando uma Pesquisa em Econometria
Recorrentemente temos recebido dúvidas relacionadas à pesquisa em econometria. Só pra reforçar, segundo Samuelson:
A econometria pode ser definida como a análise quantitativa de fenômenos econômicos concretos, baseada no desenvolvimento simultâneo de teoria e observação, relacionadas por métodos de inferência adequados.
O objetivo desse post é tentar ajudar um pouco nas dúvidas de como fazer uma pesquisa em econometria aplicada. No trajeto, é preciso escolher um tema, metodologia, dados, fazer uma revisão blibliográfica e produzir resultados.
Escolhendo o Tema
Algumas pessoas ficam petrificadas diante do desafio de escolher um tema a ser abordado. Apesar de não ter uma regra de ouro, é importante selecionar um tema atrelado ao interesse do estreiante ao mundo da pesquisa.
Escolher algo ligado à Ecologia, Macroeconomia ou Economia Brasileira não é suficiente. É necessário afunilar ainda mais. Dizia um professor de Técnicas de Pesquisa, se seu tema puder ser resumido em menos de 5 palavras, chances são que ele está amplo demais. Na dúvida, ler alguns artigos da grande área de interesse pode ajudar bastante a detalhar ainda mais seu projeto.
Para que se chegue a um nível de particularização ideal, é essencial que sejam respondidas as questões: o que pesquisar?, por quê?, como?, qual?, onde?, quando?.
Revisão bibliográfica
Como fazer a localização do material? Em geral, usa-se JStor e o RePEc (Research Papers in Economics), lá tem uma série de sites de busca. Dentro do RePEc, gosto do IDEAS e do EconPapers. De posse dos papers, aconselho a leitura deles nesta sequência:
Abstract -> Introdução -> Resultados e Conclusão -> Metodologia.
Nesta sequência de 4 estágios, passa-se de um estágio a outro se cada um dos trechos mostrar-se relevante aos interesses da pesquisa. Arquivar cada artigo lido com fichamentos ajudará em consultas futuras e na elaboração dos relatórios.
Metodologia
Feita a revisão da literatura, é preciso escolher o método econométrico. Aqui, em primeiras pesquisas, não é esperado que ninguém ouse criando um novo método. É importante que seja escolhido um método que o aluno já tenha estudado e tenha algum domínio ou então use o mesmo método de um outro pesquisador. Inicialmente, começar rodando modelos em Mínimos Quadrados Ordinários é o mais comum de se ver e acho o mais aconselhável.
Base de Dados
A escolha da metodologia está na maioria das vezes sujeita à disponibilidade de dados. Algumas bases estão disponíveis na rede, outras é preciso comprar o CD. Eis algumas fontes de dados por área:
1) Bases do IBGE: são mais gerais, uma gama enorme de áreas pode usá-las.
- Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF): dados de finanças domiciliares, educação, mercado de trabalho e saúde (dados de altura e peso);
- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): informações sobre as características gerais da população, migração, educação, trabalho, famílias e domicílios. Tem um suplemento de dados sobre saúde;
- Censo: dados da distribuição territorial e as principais características das pessoas e dos domicílios. Situação de vida da população nos municípios e em seus recortes internos – distritos, bairros e localidades, rurais ou urbanos;
- Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE): escolaridade materna, contexto social e familiar, alimentação, prática de atividade física, cigarro, álcool e outras drogas, saúde sexual e reprodutiva, e acidentes, violências e segurança.
2) Bases específicas de Educação:
- O Inep está disponibilizando para consulta os microdados em educação. Podem ser acessados diretamente daqui. Estão disponíveis os microdados das pesquisas: Censo da Educação Básica, Censo da Educação Superior, Censo dos Profissionais do Magistério, Saeb, Enem, Enade, Prova Brasil, Provão, Pnera e da Pesquisa de Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar (2008);
- SEADE – Educação: informações de educação nos municípios paulistas.
3) Bases de Macroeconomia: Ipeadata, IBGE – séries histórica, Sidra, séries históricas do BC e o Penn World Table.
4) Economia Internacional:
- Sistema Aliceweb do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC): dados detalhados sobre exportação, importação e sobre a balança comercial do Brasil.
- UNComtrade database: possui dados de comércio internacional de 170 países.
Produção de resultados
Nesta etapa, conhecer e dominar alguns comandos básicos de um pacote estatístico é fundamental durante a condução de toda pesquisa empírica. Alguns programas: STATA, SPSS, R (livre), Gretl (livre), Eviews e MATLAB.
Eu, particularmente, uso o divertido Stata. Em geral, os centros de economia têm contratos com empresas de alguns desses pacotes e liberam para os alunos usarem nos computadores da faculdade.
Reforço que não é necessário preocupar-se em aprender muito sobre o pacote já no início da pesquisa. Primeiro, procure saber como abrir uma base de dados no programa escolhido. Depois, com o decorrer da pesquisa e conforme a necessidade de produzir alguma estatística ou de rodar algum modelo, pode-se consultar algum manual tendo em mão termos de pesquisa mais específicos.
Depois de aberta a base de dados no seu programa, pode começar a trabalhar efetivamente. Costuma-se fazer primeiro uma análise descritiva da base com estatísticas preliminares. E, após isto, aplicar a metodologia escolhida e comparar com aquelas usadas naqueles artigos lidos a priori e em outros que surgirem.
É muito comum encontrar desvios e ajustes no roteiro da pesquisa. Seja devido a erros de medida, ausência de alguma variável relevante ou qualquer limitação que a base de dados apresentar. O percurso da pesquisa em econometria é coberto por percalços que necessitará buscar atalhos pra proseguir na pesquisa e, dependendo do que se quer fazer, o trabalho com a base de dados é árduo. Mas, é muito bom, a sensação de ter encontrado novos resultados pra literatura é sempre muito gratificante.
muito obrigado por tirar algumas duvidas em relação à pesquisa em econometria!!!unica dúvida que ainda carrego é como achar os dados sobre o analfabetisno no brasil eu não consegui dados trimestrais ou mensais somente anuais!!!!eu prefiro pegar dados dentro do plano real, evitando pegar dados anteriores a este!!!
Olá Mariane! Que bom que ajudou!! Por favor, me explique melhor como será sua pesquisa… Você precisa de dados agregados ou os microdados? Dados trimestrais acho difícil de conseguir. Você fará uma análise da evolução no tempo, ou seja, pretende fazê-los em painel?
Aguardo resposta,
Adriano.
Olá Mariane, conversei com a minha orientadora que pesquisa sobre educação e ela disse que desconhece taxas trimestrais de analfabetismo, afinal, em três meses é difícil alguém conseguir se alfabetizar. Mas há dados anuais (Série: PD330 – Taxa de analfabetismo de pessoas de 10 anos ou mais de idade) no seguinte site:
http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=PD330&t=Taxa%20de%20analfabetismo%20de%20pessoas%20de%2010%20anos%20ou%20mais%20de%20idade
Lá tem outras informações também. Basta pressionar o botão Voltar para encontrá-las.
Abraço
Adriano.
Ótima iniciativa, Adriano!
Econometria, tanto a disciplina quanto a forma de se ensinar, sempre causa certa dor de cabeça nos alunos de economia… hehehe
Pelo que andei ouvindo, o STATA está sendo o software mais usado nas pesquisas em economia, junto com o SPSS como base de dados.
Por sinal, estou tentando aprender a usar o STATA. Pouco a pouco, por falta de tempo e de exemplos concretos disponíveis na internet.
Tenho vários manuais básicos (que contemplam as “estatísticas”), mas sobre os modelos economicos em si,nada de exemplos disponíveis… rsrsr
Reforço a importância deste post para os futuros economistas. Conheço mtas pessoas que desistem de pesquisas ou de ir mais além na monografia por “medo” da dita cuja [a econometria]. Infelizmente.
Abs!
*base de dados = gerenciador de banco de dados
Ikari!! Obrigado. Já vi até professor de medicina usando o Stata… Pra quem está começando a usar o Stata recomendo esse site: http://data.princeton.edu/stata/
Esse outro site aqui também é bom:
http://www.ats.ucla.edu/stat/stata/sk/
Procurando na net, acabo de descobrir umas notas de um professor da London School, gostei, acho que te ajudará com os modelos:
Há umas semanas, tive a grande sorte de ganhar todos os manuais do Stata da minha orientadora, guardo todos com muito carinho. Se precisar de alguma ajuda, estamos aí.
Abraço!
Adriano.
É igual andar de bicicleta neh!? (parabens pelo post adriano. gostei muito)
Olá Max!! Valeu! Sim, de fato, é igual andar de bicicleta… Só mesmo pedalandooo 🙂 Mas não é uma caminhada suave, costuma ter bastante pedregulho no caminho! rs Os professores de econometria sempre dizem que aqueles que querem aprender mesmo econometria, tem que “brincar” com os dados.
Abraço,
Adriano.
Muito bom o texto sobre a “tão temida” Econometria. Antes de pagar essa disciplina só ouvia os outros alunos comentarem que Econometria era a cadeira mais difícil do curso de Economia. Até que não achei muito complicada, mas entendo que deveria ter mais disciplinas sobre séries temporais.
Olá Emazoel, obrigado e que bom que gostou! Qualquer cadeira de econometria precisa de bastante dedicação. É difícil, mas nada que umas boas horas de reflexão solitária não resolva… 🙂
Abraço
Adriano.
Bom dia!
Tenho uma dúvida, com relação a utilização da estimação por dados em painel ou não?
Quanto tenho dados de projetos de diversos meses e quero estimar um modelo, eu tenho informações de vários projetos, porém estes projetos não se repetem na base, ou seja, não acompanho a evolução. Por exemplo, o projeto 1 , os dados são de jan/11, os dados do projeto 2, também são de jan/11, os dados do projeto 3 são de fev/12 e assim segue, sem seguir um ordem serial. qual modelo estimar?
obrigado