Aqui jaz o Regime de Metas
Falei em outro texto sobre isto, devido a importância do assunto, volto a escrever. Trago comigo a opinião de alguns analistas econômicos que, após a decisão de juros do BC tomada esta semana, passaram a olhar com certo ceticismo o Regime de Metas de inflação e a autonomia da instituição daqui para frente.
O BC justificou a queda dos juros com projeções extremamente pessimistas sobre o cenário internacional – algumas vindas de forças ocultas – dizendo que o mundo corre grandes riscos de uma recessão de duplo mergulho, o que procovaria um arrefecimento natural nos preços. Foi uma aposta no fracasso externo; para a maioria dos analistas, uma aposta precipitada que não convenceu.
O J.P. Kupfer do Estadão, por exemplo, analisa que o efeito da decisão na reunião do Copom foi mais devastador do que o furacão Irene. Na mesma linha de pensamento, a jornalista Miriam Leitão vê o corte dos juros como um “tiro no pé”, já que como é sabido, a inflação está acima da meta e havia pressões explícitas do governo. “Só rezando, entrega para Deus” foi a reação de Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC.
Outros analistas reagiram de maneira ainda mais metafórica. Para alguns, o Regime de Metas definitivamente bateu as botas. (Isto quer dizer que a Ata, sempre divulgada sete dias após a reunião, será o “santinho” a ser distribuído no sétimo dia.) Aqui se enquadra até o ex-presidente do BC, Affonso Pastore, que escreveu um texto de título “Metas de inflação: Recquiescat in Pacem”, na tradução do latim significa “descanse em paz” no qual o economista disse com todas as letras: “a meta de inflação foi abandonada, e o novo objetivo da política monetária é estimular o crescimento do PIB.”
Destaco mais duas preocupações que tenho, provavelmente todos os analistas citados compartilham destas. A primeira é que não existe no momento nada que substitua com eficiência o Regime de Metas que vinha sendo mantido com credibilidade. O regime tem lá suas restrições como a sinalização defasada (por ser incapaz de enviar ao público sinais imediatos sobre a política monetária); a rigidez excessiva; aumentar o potencial de flutuações no produto e, por fim, poder levar a um crescimento baixo do produto (vide resultado do segundo tri divulgado hoje).
Apesar destas limitações pontuais, são difundidas nos cursos de economia as inúmeras qualidades que o sistema de metas de inflação trouxe, não só na economia brasileira, após a sua implementação no final dos anos 90. Para ser mais direto, o regime sempre foi marcado pela transparência; não depende da estabilidade da relação entre moeda e inflação e permite que o BC concentre o foco no longo prazo reduzindo a possibilidade de cair na armadilha da inconsistência temporal. É evidente que o sistema aumenta a responsabilidade da instituição, mas é a partir do regime de metas que o banco central deixa o público a par da estratégia de política monetária. Em suma, é consenso entre economistas que as vantagens superam as desvantagens.
A segunda preocupação anda junto com a primeira, com a credibilidade abalada do regime de metas, o banco central pode ter problemas em convencer a população e o mercado de que a inflação ficará sob controle. É aí que a instituição passa a ter dificuldades de coordenar as expectativas daqui para frente. Não é o fim do mundo, mas a terra treme.
Excelente artigo. A presidente tem se saído uma péssima faxineira, e também irresponsável no trato com a inflação.
Pois é ,na vida como no mercado pode se levar anos para conquistar confiança,já para destruí-la basta um passo errado…resta saber se os atores desse filme continuaram ou não acreditando na autonomia do BC