Um bom motivo para aguardar a ata do Copom
Nesta quinta-feira deve ser divulgada a ata da última reunião do Copom, que reduziu a taxa de juros de 12,5% para 12% ao ano após cinco altas consecutivas. Tal decisão, bastante surpreendente para o mercado, foi justificada principalmente por uma substancial deterioração do cenário internacional. O arrefecimento na demanda externa impactaria diretamente o preço de commodities, diminuindo assim as pressões inflacionárias.
A leitura dessa decisão, no entanto, foi de que o corte de 0,5 ponto percentual na Selic, mais do que um caráter técnico, teve ingerência política. Em vez de tentar trazer a inflação para a meta de 4,5%, o objetivo seria manter a economia aquecida. Assim, a partir dessa mudança de postura, poderíamos dizer adeus à autonomia do BC e ao regime de metas de inflação.
Talvez nem tanto o céu e nem tanto o inferno. Começa a surgir outra possível interpretação para o corte na Selic: um endurecimento no controle dos gastos. Não é de hoje que ventilam na imprensa notícias de parlamentares insatisfeitos com o valor destinado a emendas. Soma-se a isso o recente anúncio de elevação no superávit primário em cerca de R$ 10 bilhões.
Se essa interpretação estiver correta, a redução na taxa de juros seria uma sinalização de que o governo está comprometido com um maior rigor fiscal. Com o corte nos gastos e, de certa forma também nos investimentos, caberia ao setor privado assumir um papel mais ativo para a expansão econômica. Uma Selic mais baixa deveria, assim, estimular essa iniciativa.
Resta saber se essa interpretação se confirma e se, mesmo em um cenário recessivo, o rigor fiscal será um objetivo central. Talvez a ata do Copom dê alguma sinalização sobre o caminho a ser seguido pelo BC.