Curva de Kuznets para a desigualdade de gênero?
Grosso modo, a curva de Kuznets postula que à medida que um país se desenvolve, inicialmente a igualdade tende a diminuir, começando a crescer ao atingir certa renda média — formando uma curva em formato de U. Há muitos artigos (como este) que buscam testar se essa relação é de fato verificada empiricamente. Há também alguns trabalhos que aplicam esse raciocínio à liberalização comercial e outros que aplicam à qualidade ambiental.
Agora, e quanto a desigualdade de gênero? Como desenvolvimento econômico e desigualdade de gênero se comportam? É o que testou essa recente pesquisa de Eastin e Prakash (pdf), muito comentada na blogosfera internacional e indicada por Erik Voeten. Resultado: não deu U. Veja o gráfico. (Apenas um lembrete: GDI e GEM são dois índices de igualdade de gênero.)
É mais próximo de um S. Dito de outro modo, na primeira fase o desenvolvimento econômico está associado a uma melhora da igualdade de gênero, já em um segundo estágio a igualdade desacelera ou mesmo diminui, e por fim, a igualdade volta a subir num último estágio de desenvolvimento.
Encontrei um trecho no artigo que procura entender esse comportamento:
“Economic growth is disruptive because it affords women an independent income stream, provides them with social and economic visibility, and allows them to accumulate human capital. Eventually, it creates a demand for change. However, change is not always forthcoming, as the second stage illustrates, because status quo beneficiaries seek to reverse equality gains. This pushback often manifests itself as a call to return to “traditional values”. The changing opportunity cost of women not joining the labor force also affects the balance of power between progressive and reactionary forces”.
Note que a diferença não consiste apenas nos formatos (S ou U), mas na implicação política e econômica reservada a cada um. Em outro trecho do artigo é comentado que o modelo em forma de U sugere que uma vez que um limiar econômico é cruzado, o desenvolvimento econômico encoraja indefinidamente o progresso em questões de igualdade de gênero. Ao pensar dessa forma, há uma distorção de incentivos: (i) políticos e ativistas podem ser levados a acreditar que a igualdade de gênero só irá melhorar no futuro; ou que (ii) a sociedade já está na segunda fase (trecho ascendente da curva em forma de U), e portanto, dali para frente não há muito o que se preocupar. Aí é que está o perigo. Os resultados da pesquisa são importantes na medida que ilustram que há uma fase intermediária, em que os avanços de oferecer condições iguais de gênero podem ser comprometidos — ocorrendo uma estabilização ou mesmo redução de ganhos –, daí a importância de assegurar políticas igualitárias nesse estágio.
Sobre o mesmo grande assunto, há este texto bastante intrigante do Gary North traduzido pelo Mises Brasil.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1546
A seção de comentários é bastante rica também, confiram.