A polêmica IPEA
De fotos com plaquinhas à confissão do erro. Venho acompanhando por alto o alvoroço que a pesquisa (pdf) do IPEA tem gerado. Em resumo, o instituto vem agora a público com uma errata mais polêmica do que a própria pesquisa: os 65% que se diziam concordar que “mulher com roupa curta merece ser estuprada” são na verdade 26% (i.é, 39 pontos percentuais a menos). É triste pensar que isso tenha ocorrido.
Como já era de se esperar, a repercussão está sendo imediata e da mais diversa. Destaque para: [fica a critério de cada leitor julgar cada ponto de vista abaixo]
“A gente está celebrando o erro porque o cenário não é tão ruim quanto imaginávamos. Mas não quer dizer que os 26% sejam bons. Precisamos lutar para que seja zero.” — Nana Queiroz, organizadora do #Nãomereçoserestuprada.
“Eu achava que ninguém seria capaz de prejudicar mais a imagem do Ipea do que o petista Márcio Pochmann. Ledo engano! Tudo isso é muito embaraçoso, suspeito e patético”. — Rodrigo Constantino.
“O problema desse trabalho é que ele parece mais guiado por ideologia do que pela ciência. E é muito perigoso quando um instituto de pesquisa permite ser mais guiado por interesses políticos e ideológicos do que pela pura pesquisa” — Marcos Fernandes.
“Por que diabos o Ipea está preocupado com a minissaia e os impulsos libidinosos dos brasileiros, eis uma questão que ainda está para ser esclarecida”. — Reinaldo Azevedo.
“Índice de confiabilidade do Ipea cai 74%, diz Ipea” — Revista Veja, em coletânea de frases sobre o caso.
“Continuarei com a mesma recomendação que sempre fiz: leia a pesquisa antes de falar dela, seja você o divulgador da mesma, aquele que a fez (e, neste caso, tome cuidado com o que vai dizer que a pesquisa diz…) ou o leitor que pretende ficar famoso com polêmicas (ou tirando a roupa e se manifestando)” — Cláudio Shikida.
Se tivesse que reforçar algo, evidentemente diria que o erro no índice não diminui em nada a causa pelo fim da violência contra a mulher: isso independente do que os números disserem, sejam eles confiáveis ou não. Quanto ao instituto, foi um fato lamentável. Principalmente porque conheço vários pesquisadores de lá, e sei da seriedade com que trabalham. Alguns deles inclusive alertaram sobre interpretações erradas que a pesquisa vinha tendo. Foi o caso do Adolfo que publicou um vídeo colocando dúvidas no desenho amostral e na escolha das perguntas do estudo. O IPEA tem muitos pesquisadores de excelência — fica a torcida para que estes continuem no instituto fazendo o excelente trabalho que sempre fizeram.
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Adolfo (Ipea) hoje via Facebook:
“eu tenho nojo de você”…. essa foi uma das varias frases que eu ouvi nessa última semana. Motivo: meu vídeo alertando (com 1 semana de antecedência) que a pesquisa do IPEA estava errada. As vezes o caminho é bem solitário.
Prosa,
Fiz um post rápido no blog sobre o assunto. Se quiser acrescentar ao fuzuê, beleza:
http://lmonasterio.blogspot.com.br/2014/04/erros-de-um-tecnico-do-ipea-e-acertos.html
Abraços ,
Claro, acrescentado!
Realmente bem polêmico o caso do IPEA. Particularmente também acho que o IPEA tem sim pesquisadores de excelência e penso honestamente ter havido um grave engano na revisão da pesquisa, que no calor de ser publicada a toque de caixa, buscando a popularidade pela discussão recente sobre estupro, acabou por passar por peneira muito grossa de revisão estatística e metodológica.
Porém acreditar que um pesquisador do IPEA tenha cometido um engano tão grosseiro, reforça mais a tese de que os estudos possam ser fabricados sem nenhuma espécie de rigor científico, servindo mais a interesses escusos do que ao desenvolvimento da ciência. Cabe ao IPEA a partir de agora nos provar o contrário.
Parabéns pelo artigo!